Artigo:A punição contra um injustiçado


Por Domingos Cezar

No início desta semana assistir em um telejornal de uma emissora local uma matéria dando conta que, após pesada chuva sobre Imperatriz, o riacho Bacuri que corta boa parte da cidade até se juntar ao rio Tocantins, havia transbordado e inundado muitas casas residenciais, comerciais e até templos religiosos.

A reportagem de autoria de um excelente repórter, por sinal amigo meu, sem dúvida alguma foi de excelente qualidade, porém o conteúdo, sinceramente, me desagradou a ponto de colocar agora, em forma de artigo, esse meu protesto, aliás, creio que seja o protesto ou o grito de alerta de todas as pessoas que, como eu, defendem ardorosamente o meio ambiente.

Pois bem, vi com esses olhos – que um dia os candirus hão de comer – pessoas sendo entrevistadas e, como se estivéssemos em pleno tribunal de júri, elas condenavam o riacho Bacuri por esse “crime imperdoável” de ter enchido com as águas das chuvas e se deixar transbordar, para em seguida alagar as casas e causar sérios prejuízos aos proprietários.

Quase não acreditei quando vi meu amigo repórter se comportando como um promotor de justiça – na acusação – também recriminando a ação do riacho Bacuri.

“Então todos os anos nessa época o riacho lhes causam enormes problemas? Sim. – E não tem prefeito que encontre uma solução para esse angustiante problema”, respondia um morador em tom ameaçador.

Assisti a matéria e fiquei boquiaberto com aquela condenação implacável e sem oportunidade de defesa, como diria os advogados.

Por alguns instantes viajei no tempo pelos idos dos anos 60 e 70, quando menino e depois adolescente, banhava nas águas límpidas do Bacuri e de seu leito pescava ladina, piau, branquinha, sardinha, traíra, curimatã e tantas outras espécies.

Então passei a imaginar e, até a cobrar, do meu amigo repórter e de seus entrevistados, por que não proporcionaram ao riacho Bacuri a oportunidade dele também se defender das acusações que lhes foram imputadas que o levaram à condenação. Gostaria e sugiro que os seus acusadores que o tornaram em réu fizessem a ele (Bacuri) as seguintes indagações.

Riacho Bacuri: foi o senhor que chamou toda essa gente para lhe derrubar a mata ciliar que lhe protegeu durante séculos? Foi o senhor que permitiu que após a derrubada das matas eles construíssem suas casas bem na sua margem, mesmo desrespeitando as leis ambientais?

Foi o senhor que permitiu que esses seus acusadores propiciasse o extermínio das espécies que povoavam seu leito?

Não foi o senhor riacho Bacuri, assassino covarde, que permitiu que esses moradores, hoje seus acusadores, jogassem dentro de seu leito carcaças de geladeiras, fogões, sofás, pneus, cadeiras, garrafas de vidro e de plástico, que lhe atirassem bosta (fezes) e mijo (urina), despejados de seus banheiros ou privadas?

Então, se foi o senhor que permitiu, que aguente. Agora sim, estás condenado não apenas a uma pena máxima de trinta anos; da prisão perpétua que merecestes, porque agora estás condenado a morte, de preferência por apedrejamento, por ter permitido todas essas coisas…

Domingos Cezar, jornalista, escritor e ambientalista    
dcezar65@yahoo.com.br

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